quinta-feira, 14 de agosto de 2008

E que o tempo passe!


Um grande amigo fez 30 anos ontem e me perguntou como era fazer 30 porque ele estava em crise. E eu respondi:

Não dói.

Se tem uma coisa que eu não entendo é a ambivalência dos humanos. Por um lado querem vida longa, cantam “muitos anos de vida” nos Parabéns à Você, mas fazem de tudo para não demonstrar sinais de envelhecimento e temem cada década virada no seu calendário. É claro que no fundo, este temor todo se deve à lógica de que quanto mais envelhecemos, mais perto estamos da morte, mas quem disse que a vida tem lógica? Quantos avós já não enterraram seus netos?

Não faz sentido.

Para mim, chegamos a um ponto em que o medo da morte assumiu proporções maiores que a do amor pela vida. Apesar de toda a facilidade da comunicação virtual que confirma através de pesquisas que todo ser humano está a sete intermediários de distância de qualquer pessoa de qualquer ponto do globo, as pessoas se relacionam cada vez menos na vida real, se deformam em cirurgias plásticas agressivas, castigam seus organismos tomando remédios para emagrecer, cápsulas para energizar pela manhã e pílulas para conseguirem dormir a noite.

Eu não entendo.

Tem gente que entra em crise ao fazer 30 e quando chega aos 40 pensa: "Onde eu estava com a cabeça em achar que aos 30 estava ficando velha? Agora é que estou ficando velha!" e sem tirar nem por, repete a mesma questão ao fazer 50 e assim por diante... Isto só comprova que a gente passa a vida temendo o que não deve temer e achando que somos o que não somos. Eu tenho 33 anos, faço 34 em novembro e simplesmente não penso nisso, a não ser quando lembro que o relógio biológico tem uma certa validade no quesito reprodução. No geral, me sinto hoje como me sentia aos 30, aos 20, aos 15 com diferença de que agora possuo o discernimento para saber como deveria me comportar perante o mundo aos 30, aos 20 e aos 15.

Excesso de bagagem.

Na progressão da minha vida aprendi o que é amor e recentemente aprendi o que é dor. O amor gera o início e a dor é a consequência do fim. Posso lhes garantir que depois de ter perdido meu pai, nem dor de braço quebrado, nem dor de parto serão maiores do que a dor que ainda se faz presente em mim. Sei que o tempo atenua tudo, mas eu tenho a impressão (quase certeza) de que esta perda vai ser sempre dolorosa. Não importa quanto tempo passe, a lembrança do meu pai vivo é sempre maravilhosa, mas a lembrança dos últimos momentos, do hospital, da nossa esperança frustrada, dos nossos planos que ficaram por fazer, das coisas que ainda vou viver e não vou poder correr para contar para ele...

Isso sim dói.

Esta postagem é dedicada a todos aqueles que têm medo de envelhecer. Por favor, envelheçam…


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui sua opinião sobre o que pensa e sente a respeito do que lê no Duas Terrrinhas. É o retorno dos leitores que me incentiva a continuar. Obrigada!