Carta para o Papai Noel

Este ano quando parei pra pensar no que gostaria de pedir ao Papai Noel, cheguei a conclusão de que tinha muito mais para agradecer do que para pedir e por isso, desta vez, o bom velhinho vai ficar feliz quando receber minha cartinha de agradecimento dentre as milhares listas de presentes que a esta altura já deve ter recebido.

Querido Papai Noel,

Durante os meus 34 anos de existência o senhor nunca me decepcionou. Mesmo que trouxesse o que eu não havia pedido, o presente sempre me encantava, superando minhas expectativas, e o senhor sabe que não estou falando de presentes caros ou luxuosos, mas sim de todo o esforço e amor com que eles vinham embrulhados.

Tentei lembrar de todos, mas tive que me dar por vencida e aceitar que isso é impossível. O mais engraçado é que os que não saem da minha lembrança são os que recebi há mais tempo, quando ainda era criança e acreditava que o senhor era um mágico, pois conseguia entrar e sair da minha casa sem ser notado, mesmo vestindo vermelho e pulando a janela, já que no calor do norte do Brasil, o que mais se aproximava de uma lareira com chaminé era a churrasqueira que ficava no quintal e portanto, não dava acesso ao meu quarto.

Lembro muito bem do LP do Billy Paul com a Tina Charlles (o senhor me iniciou no bom gosto e no ecletismo musical), da bicicleta azul sem rodinhas e com cestinha onde eu levava a Camila pra passear na garupa e o João Paulo era o bebê perfeito pra tirar foto dentro da cestinha. Lembro também da casinha de quatro andares que vinha com a família de bonecos e todos os móveis pra serem arrumados como eu bem entedesse (será que vem daí a minha mania de querer sempre dar um jeitinho na casa?) e lembro também dos bonecos de gesso que vinham com molde, tinta e eu adorava me lambuzar com a mistura de gesso e água na hora de confeccioná-los (infelizmente não me tornei uma escultora de sucesso, mas obrigada por ter tentado).

Depois eu cresci mais um pouco e descobri o seu segredo, não contei aos meus irmãos e nem às minhas primas e acho que por isso, o senhor continuou sendo super gente boa comigo e na manhã do dia 25, sempre havia um presente-surpresa deixado debaixo da minha cama. O primeiro Natal em que isso não aconteceu foi ano passado, quando eu vim morar em Portugal , mas não se preocupe, não fiquei nem um pouco chateada com o senhor, entendo perfeitamente que o preço elevado dos combustíveis tenha dificultado o transporte até aqui, mesmo vindo de trenó. Só que eu tenho que lhe contar uma coisa, mesmo sabendo disso, a primeira coisa que fiz ao acordar, foi meter a cabeça pra fora da cama e ver se havia algum presente lá embaixo, avistei o presente que eu havia posto de surpresa pro Filipe e me senti um pouco como o senhor deve se sentir. Me tornei sua cúmplice na arte de fazer as pessoas felizes.

Este ano, o senhor não sabe, mas já me deu o maior presente que eu poderia receber, minha mãe veio passar o Natal comigo e está se dando muito bem com o homem que escolhi pra passar o resto da minha vida, minha irmã, seu marido e meu afilhado chegam no sábado pra completar a festa e a alegria lá em casa, meu irmão vai passar o primeiro Natal ao lado da mulher que escolheu pra passar o resto da vida dele e na companhia de seu grande amigo de infância que vai visitá-lo e o senhor... bem, o senhor vai continuar sendo a essência do meu Natal, porque sei que o senhor vem me visitar de madrugada como tem feito por todos esses anos, mesmo que eu não o veja.

MUITO OBRIGADA PAPAI NOEL!